A coordenação da delegação angolana para as Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) 2023, em Lisboa, admitiu hoje o “risco de fuga” de jovens que embarcam para Lisboa, apelando-lhes para “não partirem nesta aventura” porque “o sonho europeu já não é o mesmo”. É por isso que os 20 milhões de angolanos pobres, bem como os cinco milhões de crianças que estão fora do sistema de ensino, preferem esperar – in loco- o paraíso prometido por João Lourenço.
Em declarações à Lusa, o director nacional da Pastoral Juvenil da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Armando Pio Alberto, disse: “O que estamos a fazer é transmitir a real situação do país onde vamos, o sonho europeu já não é o mesmo dos anos 90, os anos 2000”.
O sacerdote católico afirma que “quem vê cara, não vê coração” e que a organização “não consegue identificar essas vontades manifestas (de fuga) por que muitas são secretas”, realçou, admitindo que existe algum risco.
Além de mecanismos internos para minimizar essa possibilidade, o coordenador da caravana angolana, que deve contar com cerca de 520 peregrinos jovens, tem-lhes apresentado a “real situação” que a Europa atravessa actualmente.
A Europa “passou por muitas mutações e, então, estamos a falar isso para os jovens que, sobretudo, nos dias de hoje a guerra na Ucrânia também encareceu a vida na Europa, o desemprego é uma realidade”, frisou.
“E não se pode viver na Europa sem ter um emprego, condições mínimas salariais, por isso é bom não se aventurarem, porque depois o sofrimento será maior, esta é a mensagem que nós passamos para que as pessoas criem consciência da realidade”, salientou.
Armando Pio Alberto disse também existirem outros mecanismos de acção, que não especificou, salientando que a coordenação da caravana angolana nível interno o que fazer: “Pois estamos a ver para minimizar (o risco de fuga)”.
“Ouvimos tanta coisa por ali, então de acordo com o que ouvimos vamos ajeitando para ver se conseguimos minimizar isso”, apontou.
Pelo menos 1.518 angolanos, residentes em Angola e na diáspora, estão já inscritos para participar na JMJ Lisboa 2023 e a partir de Luanda devem embarcar 518 peregrinos para este encontro com o Papa Francisco.
De acordo com o padre, a caravana angolana, que será chefiada pelo bispo de Cabinda e porta-voz da CEAST, Belmiro Chissengueti, embarca nos dias 25 e 26 deste mês para Lisboa, embarque antecedido de uma missa de envio.
A JMJ Lisboa 2023 realiza-se entre 1 e 6 de Agosto, com as principais iniciativas a decorrerem em Lisboa, no Parque Eduardo VII, na zona de Belém e no Parque Tejo (a norte do Parque das Nações e em terrenos dos conselhos de Lisboa e Loures).
Recorde-se que no passado dia 12, o bispo católico angolano Maurício Camuto criticou que um grupo “que pensa ser iluminado” (ou seja, os donos do reino, a elite governativa do MPLA) e quer levar Angola avante “como se tivesse uma varinha mágica”, não consiga resolver os problemas do país, defendendo maior participação cidadã.
Embora estas verdades não alimentem fisicamente os nossos 20 milhões de pobres, são um alento espiritual para todos aqueles que continuam a tentar aprender a viver sem comer.
Em conferência de Imprensa, o bispo da diocese de Caxito, Maurício Camuto, afirmou, sem meias palavras: “Há essa necessidade de implementar a participação de todos os cidadãos, que não haja só um grupo que pensa ser iluminado para levar o país avante, estamos a ver onde é que chegámos por causa disso”.
Aludindo às autoridades que dirigem o país (há 48 anos nas mãos do MPLA), o bispo católico disse que este “pequeno grupo [de governantes] pensa ter todas as soluções, como se tivesse uma varinha mágica para resolver tudo”.
“E estamos a ver que não conseguem resolver”, realçou o também secretário-geral da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), tendo defendido mais espaço para os cidadãos participarem na vida do país. Participarem na vida já que a morte, à fome ou por acção da Polícia Nacional do MPLA, está garantida.
“Que todos possam participar e dar o seu contributo político, social, programático para que ajudemos o país a sair da situação em que se encontra”, salientou o Bispo que, assim, se coloca na linha de fogo das armas desses “iluminados” que, para além de terem o cérebro ligado aos intestinos, entendem que a razão da força (do MPLA) nunca será derrotada pela força da razão do Povo.
Falando na conferência de imprensa de lançamento da sétima edição da Semana Social, que decorre em Luanda entre os próximos dias 19 e 21, numa parceria da CEAST com o Mosaiko – Instituto para a Cidadania, o bispo considerou ser “urgente” o processo autárquico.
“Então, é importante para isso que instauremos as autarquias para soluções locais e não esperar por decisões centrais, o que atrasa o nosso país e lança-nos na miséria em que nos encontramos”, apontou Maurício Camuto.
Para o bispo católico angolano “é urgente e necessário a implementação do processo autárquico que pode ajudar-nos a sair do marasmo em que nos encontramos”.
… E por falar em Igreja, em Angola a administração da justiça é muito lenta e os mais pobres continuam a ser os que menos acesso têm aos tribunais. Não, ao contrário do que dirão de imediato os arautos do regime, não foi o Folha 8 quem afirmou tal coisa.
Quem o disse em 2009 (nada de substancial mudou até agora), no mais elementar cumprimento do seu dever, foi o arcebispo da cidade do Huambo, D. José de Queirós Alves, em conversa com o então Procurador-Geral da República do regime, João Maria Moreira de Sousa.
D. José de Queirós Alves admitia também que ainda subsistia no país uma mentalidade em que o poder económico se sobrepõe à justiça. Assim continua.
O arcebispo pediu maior esforço dos órgãos de justiça no sentido das pessoas se sentirem cada vez mais defendidas e seguras.
“O vosso trabalho é difícil, precisam ter atenção muito grande na solução dos vários problemas de pessoas sem força, mas com razão”, disse D. José de Queirós Alves.
Importa ainda recordar, a bem dos que não têm força mas têm razão, que numa entrevista ao jornal português “O Diabo”, em 21 de Março de 2006, D. José de Queirós Alves já dizia (e assim continua) que “o povo vive miseravelmente enquanto o grupo ligado ao poder vive muito, muito bem”.
Nessa mesma entrevista, o arcebispo do Huambo considerava a má distribuição das receitas públicas como uma das causas da “situação social muito vulnerável” que se vive Angola.
D. Queirós Alves disse então que, “falta transparência aos políticos na gestão dos fundos” e denunciou que “os que têm contacto com o poder e com os grandes negócios vivem bem”, enquanto a grande massa populacional faz parte da “classe dos miseráveis”.
E, já agora, citemos Frei João Domingos que afirmou que em Angola “muitos governantes têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente reluzentes mas estão podres por dentro”.
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